Por que a responsabilidade socioambiental não é moda

As riquezas naturais do planeta diminuíram 30% entre 1970 e 2003

Fernando de Barros

Durante certo tempo, entre 1980 e 1990, alguns acreditavam que a cidadania ou a responsabilidade social seria apenas uma moda a mais de gestão, uma maluquice simpática de alguns nostálgicos da era hippie sonhando em mudar o capitalismo. Uma tendência efêmera que não resistiria à prova dos fatos nem à do tempo. Sabemos hoje que não é nada disto, muito ao contrário. O que ontem era alternativo transformou-se em “mainstream”, como dizem os americanos para indicar um pequeno riacho transformado em rio caudaloso, que carrega em sua correnteza os consumidores, os investidores e também as grandes empresas que, havia pouco tempo, duvidavam dessa “moda”. As mais tradicionais entidades financeiras do mercado acionário, com o Dow Jones à frente, surpreendentemente assumiram o bastão dos ex-hippies para conclamar as grandes empresas a uma maior responsabilidade social e ambiental.

É necessário reconhecer que o contexto mudou; ao colocarmos o capital financeiro no centro de nossas preocupações, o capital humano e o capital natural experimentaram sérias dificuldades. As empresas passaram a ter de enfrentar, em todas as frentes (ambiental, social e política), novos imperativos que também as estão forçando a uma tomada de consciência sobre uma necessária mutação, com a emergência de práticas mais responsáveis.
As evidências que exigem mudança de comportamento são muitas: 50% das florestas do planeta foram destruídas, 30% das antigas florestas foram convertidas em agricultura e 9% das espécies de árvores estão ameaçadas de extinção; dois terços das terras agrícolas mundiais experimentaram uma degradação dos solos nos últimos 50 anos; a pesca excessiva envolve 70% das espécies; uma em cada cinco espécies de peixe de água doce está ameaçada de extinção.
Relatórios divulgados em todo o mundo afirmam categoricamente que as riquezas naturais do planeta diminuíram 30% entre 1970 e 2003. Para prevenir os riscos, somente uma opção se apresenta às empresas: adotar uma estratégia pró-ativa e desenvolver instrumentos de controle que permitam antecipar as novas ameaças sociais ou ambientais.
O desenvolvimento sustentável – ao ajudar a empresa a ampliar seu campo de visão, integrando as considerações socioambientais em seu “radar” estratégico, mas também ao privilegiar o diálogo permanente com as partes interessadas – é sem dúvida a forma ideal de antecipar as ameaças. Este comportamento é a melhor maneira de se submeter a elas, e mesmo, se possível, de transformá-las em novas oportunidades.

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