A sustentabilidade que traz lucro

noticia-sustentabilidadeSer ou não ser sustentável, eis a questão. Afinal, uma pergunta que sempre se coloca para qualquer empresário é “O que eu ganho com isso?” Embora exista resistência quanto ao tema da sustentabilidade no meio empresarial, a adoção de diretrizes de sustentabilidade na gestão de uma empresa mostra-se cada vez mais crucial, inclusive se torna oportunidade de novos bons negócios.

A relutância de muitos empresários fundamenta-se na ideia de que sustentabilidade é origem de custos e que não rende lucratividade. As ações não são encaradas como um investimento. Em pesquisa realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), apesar das vantagens, apenas 46% das micro e pequenas empresas brasileiras acreditam que o investimento em sustentabilidade pode gerar ganhos financeiros.

A pesquisa examinou os setores de Comércio e Serviços (50%), Indústria e Construção Civil (46,0%) e Agronegócios (4,0%). Dos 3.912 empresários entrevistados, 80,6% confirmaram o controle do consumo de água, 81,7%, o consumo de energia, 70,2% a realização da coleta seletiva e 72,4% o consumo de papel. Mais da metade das empresas, porém, informou não ter o hábito de usar materiais recicláveis nas produções, 83,4% não reutilizam água e 50,9% não reciclam lixo eletrônico ou pneus. Desenvolver produtos que reduzam o consumo de energia, recursos naturais e provoquem menos impactos ambientais é a tendência que concilia bons negócios com sustentabilidade.

Por sua vez, a Universidade de Harvard, nos EUA, realizou uma pesquisa sobre o desempenho das maiores empresas do mundo, entre 1992 e 2010, considerando a adoção de políticas sustentáveis. A pesquisa elencou as 27 posturas sustentáveis mais adotadas no meio empresarial. Dentre elas, eficiência energética, redução de emissão, respeito aos direitos humanos e transparência de informações. A partir disso, as empresas foram divididas em dois grupos: alta sustentabilidade, com mais de 10 posturas sustentáveis desde os anos 1990; e baixa sustentabilidade, com menos de quatro políticas inseridas nos anos 2000.

Eis a resposta que deve quebrar paradigmas ou preconceitos no meio empresarial. O resultado revelou que o comprometimento ambiental assegurou o dobro da rentabilidade líquida e a mínima desvalorização durante a queda das bolsas. A que se deve esse alto desempenho? Segundo a pesquisa, a liderança baseada no diálogo entre as partes interessadas, as metas sustentáveis sob a responsabilidade da diretoria e os investimentos de longo prazo para satisfazer os consumidores são alguns pilares que endossam a eficiência de mercado. Vale dizer que a iniciativa, nesses casos, foi das próprias empresas.

Um exemplo de que ganho econômico combina com sustentabilidade advem do programa pioneiro de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), implantado pela Prefeitura de Nova York aos agricultores das Montanhas de Catskill. A estratégia aponta que os protetores de áreas naturais – sejam eles governos, organizações não-governamentais ou particulares – devem ser reconhecidos pela conservação das terras, pois os serviços ambientais das prestados em suas propriedades (que é principalmente a conservação da qualidade da água na região de nascentes) beneficia toda a sociedade. Nesse caso, a cada dólar pago pela manutenção da qualidade ambiental nas áreas de nascentes, foram economizados sete dólares no custo do tratamento da água.

Os números surpreendem positiva e negativamente, ora pelos dados de experiências estrangeiras que demonstram as oportunidades de ganhos econômicos ao investir em sustentabilidade, ora devido à resistência e ausência de uma cultura consolidada no meio empresarial brasileiro, especialmente no universo de pequenas empresas. De todo modo, as práticas de gestão para a sustentabilidade precisam ser aprimoradas e desenvolvidas. Cabe aos empresários fazerem a escolha pela sustentabilidade que traz, sim, lucro.

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