Aquele que tem o que não precisa é ladrão

Consumir apenas por consumir fere princípios fundamentais, como os de Ghandi

por Fernando de Barros

“Todo aquele que tem coisas de que não precisa é ladrão”. Esta frase, de autoria de Mahatma Gandhi, líder e pacifista que lutou pela independência da Índia, é forte, mas faz com que reflitamos sobre a onda tresloucada de consumo que estamos vivendo. Obviamente que não é ladrão por que roubou, mas porque, por não necessitá-la, está inviabilizando a utilidade de uma matéria prima que pegamos na natureza e que faltará para outro cidadão do planeta.

“Mottainai” é uma expressão japonesa que significa “Que desperdício!”. A expressão foi resgatada pela ambientalista e bióloga Wangari Maathai, ministra do Meio Ambiente do Quênia e primeira africana a receber o Prêmio Nobel da Paz, que morreu em setembro de 2011 deixando um exemplo maravilhoso

A gente tira a dignidade das coisas ao não saber utilizá-las, ou não dando toda a utilidade que esta matéria prima poderia ter. Cortando o fluxo do usufruto, nós perdemos também o sentido da origem, já que compramos tudo pronto nas lojas.

Esquecemos que todo papel foi uma árvore, que ocupou lugar na Terra, que logicamente absorveu nutrientes da Terra, que absorveu umidade, luz solar, que se alimentou também da lua e da noite. A gente se esquece que todo pinheiro ou eucalipto demorou no mínimo cinco anos de crescimento para poder ser cortado, se tornar celulose e virar papel.

Ser feliz é consumir? A associação de felicidade e consumo é um binômio explosivo, por que você está condenando três partes da humanidade à infelicidade. É muito cruel. Além disto, há as gerações mais novas. Vamos deixar um planeta muito mais pobre e precário do que recebemos de nossos pais. Nós acima dos 40 anos escovávamos os dentes com a torneira aberta e ninguém via nenhum tipo de problema nisso. Hoje sabemos que a água doce já é motivo de conflito e de guerra.

Por comprarmos tudo pronto, temos uma percepção de que podemos ser autônomos das forças da natureza, independentes de nossas bases naturais, biológicas; isso é uma fantasia. Nenhum Einstein, nenhum Beethoven, nenhum Mozart poderia ter feito o que fizeram se não tivesse almoçado, jantado, tido algum tipo de refeição minimamente. Temos total dependência do Meio Ambiente.

Este artigo foi baseado na entrevista de Lia Diskin à jornalista Chantal Brissac, da revista 29 horas. Ela é quem trouxe algumas vezes o Dalai Lama ao Brasil e que está por trás de algumas e mais concretas e persistentes iniciativas pela Paz e pela convivência harmoniosa entre as pessoas. Boas festas e um ótimo 2012 a todos!

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