A nossa lama tóxica

O desastre ambiental da Hungria também ocorre, aos poucos, por aqui

por Fernando de Barros

As notícias sobre a lama vermelha tóxica que vazou de uma fábrica de alumínio no oeste da Hungria confirmam que ela já atingiu o rio Danúbio que banha vários países na Europa. Segundo fonte oficial dos serviços de emergência daquele país, todo o ecossistema do rio Marcal foi destruído. O nível de alcalinidade, muito elevado, matou tudo.

A poluição dos rios ameaça o meio ambiente da região, dias depois que uma torrente de lodo tóxico irrompeu em vilarejos húngaros, matando quatro pessoas e ferindo 120.

Em um primeiro momento, pensamos “Graças a Deus não temos este problema no Brasil, nem perto  de nossas casas”. Um problema pontual como este raramente temos por aqui; no entanto, sofremos milhares de pequenas poluições causadas por atividades empresariais que despejam em nossos rios milhões e milhões de litros de poluição de efluentes não tratados provenientes de pequenas e médias indústrias, e que são jogados diariamente na rede de águas pluviais ou na rede de esgoto clandestinamente.

São lava-jatos lançando efluentes com óleo em nossos rios, pequenas indústrias lançando metais pesados como cromo e níquel na rede pluvial, serigrafias lançando poluentes coloridos em nossos rios, além do lançamento de esgotos clandestinos na rede de águas pluviais que acabam por chegar aos corpos hídricos.

No programa de monitoramento da qualidade da água dos rios de Londrina, identificamos uma quantidade muito acima do normal de coliformes, causadores de doenças de veiculação hídrica especialmente em crianças que se banham nos córregos, como também nas hortaliças irrigadas.

Os demais indicadores como DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e DQO (Demanda Química de Oxigênio), importantes indicadores de poluição, estão em geral acima dos parâmetros permitidos pela legislação brasileira. Este é o retrato da maioria dos municípios brasileiros, mas por que isto ocorre?

Será que é a ganância de alguns que não querem gastar recursos para cuidar de forma adequada de seus efluentes? Ou será que é falta de conhecimento da legislação que faz com que muitos lancem seus poluentes na rede pluvial achando que é assim mesmo que devem proceder?

É uma poluição que não mata tudo de uma vez como aconteceu na Hungria, mas é uma poluição que mata aos poucos a vida aquática e causa danos muitas vezes irreparáveis à saúde humana, em especial daqueles que usam aquela água para beber ou regar sua plantação. Infelizmente, também temos nossa “lama tóxica” – menos visível que a da Hungria, mas tão maléfica quanto.

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