Construção sustentável: como escolher as matérias primas
Priorizar matérias primas recicladas e fabricadas na região da obra fazem a diferença
A série sobre “Construção sustentável” já abordou a escolha da localização do terreno e o uso racional de água. Desta vez, a pauta é a categoria de pontuação do sistema de certificação LEED “materiais e recursos”, para mostrar como escolher adequadamente matérias primas empregadas na construção pode gerar créditos e proteger o meio ambiente.
Reaproveitar ou reutilizar materiais ou aplicar matérias primas fabricadas com componentes reciclados são uma maneira de investir em construção sustentável. Um exemplo cada vez mais comum que confere outro uso a um material são as madeiras de demolição. Segundo a arquiteta e analista da Master Ambiental Carolina Prates Mori, “tanto hábitos simples, como peneirar entulho para fazer chapisco rústico, quanto recursos inovadores, como a madeira plástica e o piso de pneu, são alternativas interessantes de material reciclado”.
Outro exemplo mencionado por Carolina é o cimento CPIII, composto por 35% a 70% de escória siderúrgica. No lugar do clinquer e do gesso, cuja fabricação é mais nociva ao meio ambiente, a escória é aproveitada de outros processos. “Os maiores fabricantes de aço do Brasil vendem de 70% a 80% de barras oriundas da sucata”, complementa. Com isso, além de agregar valor à construção, o empreendedor reduz os gastos.
A arquiteta lembra que existe um crédito de certificação específico voltado às escolas e novas construções que pontua o uso de materiais rapidamente renováveis. “O ciclo de produção desses materiais deve ser inferior a 10 anos, como é o caso do linóleo, do bambu, sapê e outras fibras naturais. Esses materiais não se esgotam da natureza ou não demoram milhares de anos para se renovar, como é o caso dos minérios”, explica.
Outro crédito envolve a utilização de materiais regionais, que devem ser extraídos, processados e manufaturados dentro do raio máximo de 800 km de distância da obra. Com isso, o impacto ambiental é reduzido, pois é gerada menor emissão de gases de efeito estufa no transporte, além de privilegiar o desenvolvimento local.
Um importante crédito vem do uso de madeira certificada, distinta das demais pelo selo reconhecido internacionalmente FSC (Forest Stewardship Council). O selo certifica, por meio de um mecanismo de rastreamento, toda a cadeia de transporte da madeira, desde o plano de manejo da floresta de onde foi extraída. Assim, garante-se que a madeira não é originária de desmatamento ilegal. “Atualmente esse quesito é difícil de aplicar, porque a madeira certificada ainda é menos comum no mercado e, por isso, cinquenta por cento mais cara do que as madeiras não certificadas”, lamenta a arquiteta.
Além disso, o adequado dimensionamento da obra e os cálculos quantitativos na fase de projeto permitem que a aquisição dos materiais seja mais precisa e evita desperdícios, o que antecipa outro importante aspecto da categoria materiais e recursos: o gerenciamento de resíduos sólidos.
Gerenciamento de resíduos na construção civil
Um pré-requisito da categoria materiais e recursos, sem o qual não há possibilidade de a obra ser certificada, é a existência de locais adequados para o acondicionamento e armazenamento dos resíduos – segregados na fonte. Minimamente, os materiais recicláveis devem ser separados dos demais.
O gerenciamento adequado de resíduos da construção civil é um aspecto importante da fase construtiva, incluindo a redução da geração, evitando desperdícios e promovendo a reutilização e reaproveitamento de matérias primas, para evitar a destinação a aterros sanitários. “Pelo volume e peso que apresentam, os resíduos da construção civil são considerados os vilões dentre os resíduos urbanos”, justifica Carolina. A redução de 50% do entulho destinado em aterro gera um ponto e a redução de 75% gera dois.
Para o cientista ambiental e consultor da Master Ambiental Caio Dalla Zana, em muitos casos falta percepção dos empreiteiros quanto à redução da geração e a separação dos resíduos da construção civil. “O resíduo vem de um material comprado, jogá-lo fora é jogar a matéria prima”, analisa.
“O ciclo de vida do material deve ser pensado desde o momento da compra, buscando a mínima geração de resíduos” recomenda. No entanto, ainda que haja desperdício nos dias de hoje, décadas atrás era pior. “Por volta da década de 90, calculava-se um desperdício de aproximadamente 30% em cada obra”, salienta Dalla Zana. Isso significa que a cada três prédios construídos, um prédio se tornava resíduo.
No entanto, mesmo diante da expansão de produtos inovadores no mercado, o principal segredo é investir, desde o início do projeto, na gestão de resíduos. “Não gerar o resíduo é a melhor forma de lidar com ele”, finaliza o consultor.
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