Sistema subterrâneo de coleta de lixo no Rio de Janeiro: exemplo do que não foi e poderia ter sido
Já se perguntou qual será o legado da atual geração de seres humano para os próximos milênios? Um, particularmente, é certo e tem reflexos significativos para o próprio planeta. O lixo. E o legado dos eventos esportivos para o Brasil?
Evidenciadas nas manifestações iniciadas em junho, uma pergunta frequente feita pela população, especialmente pelos habitantes cariocas – sede tanto da Copa do Mundo de 2014 como das Olimpíadas de 2016, tem sido qual será o legado dos eventos esportivos para os serviços públicos e a qualidade de vida da população.
Sem dúvidas, o Rio de Janeiro vive um momento ímpar na sua história, com muitos investimentos e novas construções. Entretanto, a percepção da maioria da população, dado o histórico do pan-americano, tem sido que pouco irá ficar de benefício para o cotidiano da cidade. Um aspecto dos serviços públicos que evidencia essa preocupação é a gestão de resíduos sólidos.
As Olimpíadas de Barcelona, na Espanha, foram um marco para a concepção de que os eventos esportivos mundiais devem deixar um legado de investimentos para a cidade sede. Em Barcelona, para atender às demandas dos jogos olímpicos de 1992, a cidade foi palco de uma remodelação urbana e o desenvolvimento de um sistema de coleta subterrânea de lixo foi um importante legado. Com a intenção de ordenar o sistema de coleta e evitar resíduos espalhados pelas vias, as velhas latas de lixo nas ruas foram substituídas por um sistema muito mais limpo e organizado.
As bocas de lixo, que compõem o sistema, são conectadas a um sistema de tubulação implantado a cinco metros do pavimento das ruas. Por meio de um sugador, o lixo é aspirado e conduzido a cerca de 70 Km por hora a uma usina de triagem. Nesse local, papel, plástico e alumínio são separados para reciclagem enquanto os resíduos orgânicos se transformam em combustível para mover turbinas que geram eletricidade.
A intenção é extinguir o uso diário de caminhões de coleta. Para tanto, novos prédios contam com o sistema, instalado internamente para oferecer mais conforto aos moradores. Na capital catalã, a maior parte dos resíduos gerados são coletados dessa forma.
Infelizmente, o Rio de Janeiro fica para trás nessa corrida para potencializar as mudanças inovadoras com os eventos esportivos. A verossimilhança do sistema de Barcelona com o do Rio acaba com uma simples análise. Foi inaugurado um sistema subterrâneo de transporte de resíduos na Praça Cardeal Câmara, na Lapa. Mas, muito longe de se tornar o padrão da maioria da cidade, a lixeira integra um projeto piloto. A capacidade até é significativa, pois pode estocar até 25 m³ de resíduos, equivalente a 104 contêineres utilizados anteriormente.
É louvável o sistema piloto, pois métodos como esse podem simplificar a logística e trazer inúmeros retornos à sociedade, como o armazenamento ordenado e seguro do lixo e a eliminação do mau cheiro no entorno, além de reduzir ao longo do tempo custos com o transporte diário dos caminhões que realizam a coleta. Mas, estaria o Rio de Janeiro empenhado em mudar toda a coleta de lixo da cidade?
Infelizmente, são remotas as chances de a maior parte da cidade ser adaptada para esse sistema, diretamente ligado a uma central de triagem, tornando-se mais um exemplo do que não foi e poderia ter sido do que uma alternativa viável para a coleta pública.
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