Reino dos coliformes

Um real em saneamento economiza quatro reais em postos de saúde

Por Fernando de Barros

A precariedade do sistema de coleta e tratamento de esgoto é um dos maiores fatores de danos ambientais no Brasil – e de doenças também. Gastamos bilhões de reais todo mês para dar assistência médica (mal, ainda por cima) à população sem nos tocarmos de que, se investíssemos em saneamento, nossas despesas com saúde cairiam vertiginosamente. Mas obras para tratamento de esgoto são obras que ninguém vê, não dão voto. Eis a questão.

Um artigo do jornalista Cláudio de Moura Castro, publicado recentemente na revista Veja, trouxe dados estarrecedores sobre como o Brasil trata este tema. Intitulado “O reino dos coliformes”, o artigo relata a visita de um cidadão a uma escola cuja reforma estava no fim. A escola tinha de tudo, belos espaços, quadra esportiva, computadores, e atrás do prédio havia um riacho.

O cidadão, então, questionou se na escola havia fossa séptica. Não, foi a resposta. Como, ponderou o cidadão, a escola ensinaria boas práticas de meio ambiente se ela mesma jogava cocô no rio? A diretora levou a preocupação ao prefeito, que mandou o secretário de Obras construir fossas em todas as escolas. Ou seja, dinheiro havia – o que não havia era discernimento e vontade política.

De 100 anos para cá, destaca o artigo de Veja, todos os indicadores de qualidade de vida subiram vertiginosamente no Brasil. Todos, menos um: o esgoto tratado. Do total da população, 57% não possuem coleta de esgoto, e 700 mil pessoas são internadas, todo ano, por causa de doenças ligadas à inexistência de esgotamento sanitário adequado.

O número de internações por doenças gastrointestinais, onde não há esgoto, é o dobro daquele onde há boa cobertura. Daí, o jornalista pergunta: se obras de engenharia, então, beneficiam mais a saúde do que cuidados médicos, por que elas são postergadas? Pura miopia e ignorância, já que, segundo a ONG Trata Brasil, 31% desconhecem o que é saneamento, apenas 3% o relacionam com a saúde e 41% não pagariam para ter seu domicílio ligado à rede de esgoto.

Outra observação pertinente de Cláudio de Moura Castro é que em algum momento da história o Brasil pode ter sido tão pobre que esgoto tratado seria um luxo, mas agora não. Faz tempo que o País tem recursos para isso. Segundo ele, tratar todo o esgoto das cidades-sedes da Copa de 2014 custaria R$ 9 bilhões – menos do que gastaremos para construir ou reformar os estádios do Mundial.

Um real em saneamento economiza quatro reais em postos de saúde. Dá para imaginar quantos bilhões economizaríamos se fizéssemos as obras necessárias de saneamento no Brasil? Pensemos nisso. E cobremos energicamente de nossos governantes.

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