O mal das barragens à pesca

Sedimentos dos rios são o combustível da cadeia alimentar marinha

Por Fernando de Barros

Além dos graves impactos ambientais já mais do que conhecidos, causados pela construção de barragens em nossos rios (perda da biodiversidade e de florestas por conta das áreas inundadas, impacto social sobre a posição ribeirinha e a perda da qualidade da água pela mudança do regime lótico pelo regime lêntico, com águas quase paradas, eutrofização fenômeno causado pelo excesso de nutrientes numa massa de água, provocando um aumento excessivo de algas, dando cheiro e cor a água), temos outros que vamos destacar neste artigo.

As barragens de rios, tanto as que servem a hidrelétricas quanto as que têm a função de manter açudes em ambientes áridos, impactam a zona costeira milhares de quilômetros de distância de onde foram construídas. É o que prova um estudo do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Transferência de Materiais Continente-Oceano, que ganhou nesse ano prêmio da Fundação Boticário no tema Oceanografia.

Quando se constrói uma barragem, parte dos sedimentos que o rio levaria para o mar acaba ficando no mesmo lugar. Estima-se que hoje em dia os oceanos recebam somente 50% dos sedimentos transportados há 100 anos, antes da construção de grandes represas, afirma Luiz Drude de Lacerda, pesquisador que trabalha na bacia do Rio Jaguaribe, que corta 70% do Ceará e tem 87 reservatórios de água.

Esse material deveria repor o alimento das espécies marinhas e substituir parte do terreno que é engolido pela ação do mar. Por isso, Drude defende que os relatórios de impacto ambiental de barragens também considerem os ecossistemas marinhos onde os rios afetados deságuem.

Com menos aporte de sedimentos do continente, surgem problemas, afirma Drude. As águas oceânicas penetram mais e salinizam os aqüíferos costeiros, prejudicando o abastecimento da população. A regulação do fluxo dos rios compromete toda a produtividade pesqueira da costa, pois a pesca depende dos sedimentos do continente, ele é o combustível da cadeia alimentar marinha.

E em pleno século XXI ainda temos políticos e profissionais que ainda defendem esta solução, que foi necessária no século XX, mas o tempo já passou e hoje a nossa busca incessante tem que ser pela energia verde, como a eólica, solar ou biomassa. Não podemos nos calar diante daqueles que gostam de obras faraônicas cujos impactos ambientais e sociais já são mais que conhecidos. Uma ótima semana a todos.

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