Entenda como os rios voadores distribuem água para a região mais habitada do país

As nuvens de chuva levam grande volume de água da Amazônia ao sudeste do Brasil

Entenda como os rios voadores distribuem água para a região mais habitada do paísEntre 2008 e 2012, junto com pesquisadores, o piloto Gerard Moss, sobrevoou diversas regiões brasileiras, sobretudo a Amazônica. O objetivo era recolher amostras de vapor de água das nuvens e traçar os caminhos daquilo que os cientistas denominam “rios voadores”.

“A gente coleta um gota de água, dois ou três milímetros, e a gente pergunta: essa gotinha vem de onde? Aqui estamos em Brasília, por exemplo, essa gotinha tem traçado, um DNA”, explica Moss.

O rio voador nasce no Oceano Atlântico, próximo a Linha do Equador e o fenômeno acontece da seguinte maneira: a partir da evaporação das águas, as nuvens se formam e os ventos sopram a corrente de ar carregada de umidade para a região amazônica, na qual é provocada chuva. Ao cair no chão da floresta, a água evapora rapidamente, o que forma mais nuvens que seguem para o oeste até serem barradas pela Cordilheira dos Andes. Neste ponto, as nuvens acompanham o contorno das montanhas, fazem uma curva, e seguem em direção ao centro-oeste, sudeste e sul do país.

Apesar de responsável pelas chuvas que caem nessas regiões entre dezembro e março, o rio voador teve impacto diferente este ano, em virtude da mudança na circulação dos ventos. Ao passo que durante o verão a chuva ficou abaixo do normal no sudeste e no centro-oeste, o volume de água extrapolou a média em parte da região norte, situação que provou a cheia de alguns rios.
A meteorologista do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), Márcia Seabra, associa a causa da interrupção da corrente do rio voador a um sistema de alta pressão atmosférica. “Normalmente esses ventos ficam apontados para essa região aqui durante o verão. Só que nesse período a gente estava com essa circulação aqui muito forte, que a gente chama de alta subtropical do Atlântico Sul. É uma massa de ar quente e seco, ela deveria estar posicionada um pouco mais para o oceano, mas nesse verão ficou próxima do continente e acabou impedindo que esse jato ficasse mais posicionado para essa região. A gente teve pouca chuva. As temperaturas ficaram muito elevadas”.
Por outro lado, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais e um dos idealizadores do projeto, Antônio Nobre, explica que os rios voadores também são responsáveis pela abundância de água no pantanal mato-grossense e nos estados do sul e sudeste. Segundo ele, caso o rio voador não existisse, provavelmente essas áreas seriam desertas. “A floresta amazônica chega a ter de 400 a 600 bilhões de árvores cada um transpirando. Ela transfere durante um dia 20 bilhões de toneladas de água para se ter uma noção do que é isso rio Amazonas, que é o maior rio da Terra, ele coloca 17 bilhões de toneladas em um dia, de fluxo”.
Neste contexto, os pesquisadores reforçam a importância das florestas para a existência dos rios voadores e, consequentemente, das chuvas. Diante disso, além da agricultura, o desmatamento afeta a produção de energia da região mais habitada do país. “É um dia importante para se lembrar que temos que ter o uso racional da água, claramente, mas também temos que preservar nossas florestas, porque uma parte dessa água que beneficia a gente vem da floresta em pé”.
Com informações do Portal G1

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