Alternativas individuais para tratar esgoto são cada vez mais viáveis
Especialista em efluentes da Master Ambiental indica soluções para locais que não recebem coleta e tratamento de esgoto convencional
A distância das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) não é mais pretexto para o lançamento inapropriado de efluentes. Acessíveis e econômicas, alternativas individuais para este tratamento são muito usadas no meio rural. Confira algumas soluções para diminuir a poluição e melhorar a qualidade da água potável dos aquíferos e lençóis freáticos que abastecem essas regiões.
Com excesso de substâncias como potássio, nitrogênio, fósforo e matéria orgânica, o efluente sanitário deve passar por tratamento antes de ser lançado no solo ou em cursos hídricos. “O principal problema do despejo inadequado em rios é que a degradação da matéria orgânica consome o oxigênio da água, criando um ambiente com organismos anaeróbios, onde o resultado do seu metabolismo gera gases como metano e sulfeto de hidrogênio, responsáveis pelo cheiro semelhante ao do ovo podre”, detalha o engenheiro ambiental, analista da Master Ambiental, Charles Moretto.
Confira algumas formas de tratar o esgoto doméstico:
Tratamento de zona de raízes
Essa solução se baseia na instalação de uma fossa séptica impermeabilizada, conectada aos banheiros. Nela, fica armazenado o material grosseiro, que depois de sedimentar, forma o lodo de fundo, que será degradado por bactérias. “Dali, os efluentes estão livres dos sólidos grosseiros e são encaminhados ao tratamento secundário, da zona de raízes”, explica Moretto.
Instalada sobre a rede de distribuição do efluente bruto, a zona de raízes é composta por plantas cultivadas sobre um filtro de areia seguido por um de brita. Devido à fácil adaptação, a espécie mais utilizada é a Zantedeschia aethiopica, conhecida como copo-de-leite. “A maioria das espécies dessa família é de ecossistemas úmidos, como brejos”, acrescenta o engenheiro.
Um dos aspectos que chama atenção é o papel exercido pelas bactérias em todo o procedimento, que envolve processos físicos, químicos e biológicos. “Elas são responsáveis pela degradação da matéria orgânica do efluente, retirando as propriedades do esgoto”, observa.
Contudo, para que seja eficiente, o sistema precisa de alguns cuidados. “O tanque deve ser limpo a cada um ano ou menos, conforme a observação do operador, para evitar que haja obstrução”, orienta Moretto. Para evitar a contaminação do solo ou do lençol freático, é necessária a impermeabilização com lona plástica resistente (PEAD).
Com uma variação de custos de R$600 a R$1.500, a eficácia da alternativa (77%-98%) pode ser comparada aos sistemas de tratamento mais caros.
Conjunto de Fossa, Filtro Biológico e Sumidouro
O tratamento deste conjunto funciona pela proliferação de bactérias tanto na fossa séptica como no filtro anaeróbio, que removem boa parte da matéria orgânica do esgoto. O filtro biológico permite a redução de 50% a 60% da matéria orgânica do efluente. No entanto, mesmo que para fins não potáveis, a água oriunda desta filtragem não é reutilizável.
Embora apresente risco de entupimento, o filtro pode ser construído e operado facilmente a baixos custos. “Ele também não perde eficiência ao longo do tempo, desde que o lodo depositado seja removido a cada um ou três anos”, complementa Moretto. A vazão do projeto – e em alguns casos seu aumento – também interfere no funcionamento do filtro ao longo do tempo.
Assim, o restante do efluente é direcionado a um sumidouro ou vala de infiltração – escavações revestidas por tijolos, pedras ou outros materiais, que permitem a infiltração do líquido no terreno. O sumidouro deve ser construído a, no mínimo, três metros do lençol freático mais próximo.
Para a vala de infiltração, a lógica é inversa, já que se trata de um sistema superficial e extenso. A eficiência do conjunto depende da dimensão, da instalação e da operação do sistema, definidas conforme a vazão do local. Para uma família de duas a seis pessoas, o custo do sistema varia de R$950 a R$1.500.
Biodigestor
Criado com tecnologias simples e recomendado para propriedades com criação de suínos e bovinos, o biodigestor transforma os dejetos dos animais em biofertilizantes, usados como adubo de lavouras e na produção de biogás, fonte de energia muito útil.
“Cada modelo é adequado a diferentes resíduos. Os mais comuns são os indianos, os chineses, de fluxo tubular e o tipo batelada”, especifica Moretto. Este último costuma ser adotado na avicultura de corte, já que os resíduos são retirados a cada 60 dias.
De maneira geral, o processo funciona por meio de um filtro, que remove os compostos e canaliza os gases emitidos, que podem ser enviados a um reservatório para geração energia. Dentre os gases gerados, estão: o dióxido de enxofre (SO2-), o sulfeto de hidrogênio (H2S) e o metano (CH4), único que deve ser separado dos demais para que possa ser adaptado a um motor a gás ou outro dispositivo de geração de energia.
Em muitas propriedades rurais, o biodigestor também gera receita. Isso porque sua integração ao sistema de distribuição de energia das concessionárias permite a venda do excedente.
Fossa séptica biodigestora
Por meio da biodigestão, este sistema permite o tratamento dos dejetos das residências rurais, garantindo o Saneamento Básico na Área Rural. O processo consiste na utilização do esterco bovino fresco ou de outro animal ruminante, como cabras e ovelhas, para eliminar micróbios e bactérias dos dejetos expelidos pelo ser humano. Ao final do procedimento, é produzido um adubo natural líquido, sem cheiro desagradável ou vermes nocivos à saúde humana e ao meio ambiente. A substância pode ser usada para fertilizar e irrigar o solo, melhorando sua qualidade e incrementado a renda dos agricultores.
Conforme Moretto, o sistema substitui o esgoto a céu aberto e as fossas rudimentares, chamadas de fossas “negras” (semelhantes a buracos abertos na terra). “Sem isolamento seguro, essas fossas permitem a infiltração de dejetos no solo, o que contamina os lençóis subterrâneos de água e pode causar doenças aos moradores”, ressalta.
Independente da escolha, idealizar e investir em soluções de tratamento de efluentes individuais significa priorizar a qualidade do meio ambiente e colaborar para a disponibilidade de água potável, em caso de seca e desabastecimento.
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