A diferença entre o “quebra-quebra” e a gestão de resíduos
Os resíduos da construção civil, provenientes de construções, reformas, demolições, ou resultantes do preparo de terrenos, devem ser separados conforme as suas classes na origem, de acordo com a Resolução CONAMA 307/2002, alterada pelas resoluções 431/2011 e 448/2012. Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), a gestão de resíduos sólidos deve levar em conta a prioridade de não geração dos rejeitos. Resíduos misturados na obra – que na maioria das vezes poderiam ser reaproveitados – tornam-se rejeitos pela falta de separação na fonte.
Classe A são aqueles reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como solo, componentes de cerâmica, argamassa e concreto. Classe B são os resíduos recicláveis mais comuns, como plástico, papelão, vidros, madeiras (além do gesso, que passou a ser considerado como matéria reciclável).Os resíduos que não possuem viabilidade técnica ou econômica para reaproveitamento ou reciclagem são da classe C, ou também chamados de rejeitos. Por fim, há a classe dos resíduos perigosos, contaminados como tintas, óleos e solventes ou feitos a partir do amianto, tóxico para o ambiente e para a saúde das pessoas.
Assim, a falta de planejamento adequado nas demolições ocasiona a destinação inadequada desses resíduos e a degradação do ambiente urbano. O problema é agravado por dificuldades extras no manuseio e transporte, tendo em vista o volume e peso expressivo dos materiais, o que muitas vezes exige maquinário pesado.
Por sua vez, a necessidade de pôr abaixo por completo grandes estruturas para dar lugar a espaços abertos e novas construções, com técnicas mais modernas de engenharia, tem sido crescente – dado o avanço da indústria da construção civil.
No Brasil, impulsionadas pelos próximos eventos esportivos mundiais, demolições de grandes estruturas passam a ser cada vez mais frequente. No Rio de Janeiro, o caso do Maracanã, foi exemplar. Arquibancada e cobertura de concreto tiveram que ser demolidas para substituição por novas estruturas que atendam às exigências da FIFA. Resultado: um volume gigantesco de resíduos de demolição, entulho típico de obra, constituído por restos de tijolos, concreto, argamassas, etc.
Felizmente, a reforma do estádio, realizada pelo Consórcio Maracanã 2014 – Odebrecht, segue critérios para obtenção da certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), contando com um Projeto de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil e com profissionais especializados para a supervisão das atividades e gestão de resíduos, buscando a máxima reciclagem de materiais.
Parte do material inerte, típico de obra ou Classe A, foi utilizado no próprio estádio, para a base do gramado e também encaminhada ao Aterro de Gramacho, para cobertura de resíduos. O mar de lama, que surgiu com escavações, foi sugado e encaminhado para uma cerâmica, onde, misturado à argila, transformou-se em novos tijolos e telhas.
O diferencial foi colocar em prática dois princípios básicos e chaves para o gerenciamento de qualquer tipo de resíduo: a segregação na fonte geradora e a responsabilidade do gerador. Assim, torna-se possível a utilização de resíduos Classe A na pavimentação de rodovias, fabricação de concreto, agregado para argamassas, entre outras aplicações. Com a reciclagem e o reaproveitamento dos materiais, além de reduzir a poluição do solo e da água, são poupados recursos naturais, por evitar novas extrações de matéria prima da natureza.
Cada município deve regulamentar a responsabilidade privada dos geradores de resíduos, inclusive os de origem na construção civil. No exemplo de Londrina, no norte do Paraná, se a reforma gerar mais que 1m³, é grande geradora e deverá elaborar seu projeto e arcar com a destinação correta de cada classe de resíduos.
Em uma reforma, as madeiras podem ser reaproveitadas. As louças, portas, janelas e ferragens podem ser até comercializados se estiverem em bom estado. Ferragens podem ser vendidas para os ferros-velhos. Concreto, cimento e tijolos, depois de britados, originam agregado reciclado para aplicação em concretos não estruturais ou como cascalhos em estradas não asfaltadas.
Logo, por mais que não se possa aposentar as marretas e retroescavadeiras, o puro e simples desmantelamento de uma obra civil não pode mais significar desperdício de materiais. Demolir não é sinônimo de “quebra-quebra”. Seja em gigantes reformas como a do Maracanã, ou na reforma do banheiro de casa, os resíduos precisam ser separados na fonte e destinados adequadamente. E fica difícil fazer isso depois que tudo vier abaixo de uma vez.
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